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Câncer de início precoce: o tamanho do problema e o que se sabe até agora

16 Junho 2025

Escrito por Francisco H. C. Felix

Nos últimos anos, cresceu a atenção da comunidade científica e do público para o aumento global do câncer de início precoce Câncer (lat cancer = caranguejo): grande grupo de doenças muito diferentes entre si, tendo em comum a proliferação celular incessante e desordenada, a capacidade de invadir localmente tecidos saudáveis do organismo e a capacidade de se espalhar para locais distantes (metástases). Os diversos tipos de câncer são teoricamente oriundos de uma única célula (origem clonal) a qual sofreu mutações em seu código genético. Saiba mais aqui. — definido como aquele diagnosticado antes dos 50 anos de idade. O artigo de Ugai et al. (2022), publicado na Nature Reviews Clinical Oncology (DOI: 10.1038/s41571-022-00672-8), evidenciou que, embora o câncer fosse tradicionalmente associado a pessoas com mais de 50 anos, sua incidência está se tornando cada vez mais comum em adultos jovens.

O que é o câncer de início precoce?

Câncer de início precoce refere-se a tumores diagnosticados em pessoas com menos de 50 anos. Dentro desse grupo, há subcategorias importantes: adolescentes (15-18/24 anos), adultos jovens (25-39 anos) e adultos de meia-idade precoce (40-49 anos). O termo internacionalmente utilizado para adolescentes e adultos jovens é AYA (adolescents and young adults), geralmente abrangendo dos 15 aos 39 anos. O impacto do diagnóstico nessa fase da vida é profundo, afetando não só a saúde, mas também aspectos sociais, emocionais e econômicos.

A classificação de câncer de início precoce foi introduzida nas últimas décadas diante da observação de que certos tipos de câncer, tradicionalmente raros em pessoas jovens, passaram a apresentar aumento de incidência em adultos com menos de 50 anos. Essa definição ganhou destaque a partir dos anos 2000, especialmente em estudos epidemiológicos internacionais Epidemiologia (gr epi = sobre; demos = povo; logos = estudo): propõe-se a estudar quantitativamente a distribuição dos fenômenos de saúde/doença, e seus fatores condicionantes e determinantes, nas populações humanas. É um campo da ciência que trata dos vários fatores genéticos, sociais ou ambientais e condições derivados de exposição microbiológica, tóxica, traumática, etc, que determinam a ocorrência e a distribuição de saúde, doença, incapacidade e morte entre os grupos de indivíduos. , para diferenciar tumores que surgem precocemente daqueles que ocorrem em idades mais avançadas. O objetivo é facilitar a vigilância, a pesquisa e o desenvolvimento de estratégias de prevenção e diagnóstico precoce para esse grupo, que apresenta características clínicas, fatores de risco e necessidades distintas.

Pesquisando no Google Acadêmico pelo termo “early onset cancer” (assim, com aspas, para forçar a busca pelo termo completo), a menção mais antiga que encontrei foi um artigo de 1974 sobre câncer de mama que já comparava a doença em mulheres com menos ou mais de 45 anos. Os autores desse estudo estavam interessados em verificar qual o impacto de fatores de risco conhecidos na época em pacientes com início de doença precoce (supostamente mais ligado a fatores genéticos e hereditários Gene (gr gonos = geração, semente): trecho de DNA que codifica uma molécula (proteína) com uma função. Correspondem às unidades de herança hipotetizadas por Mendel e denominadas de genes pelo botânico dinamarquês Johannsen em 1905. Constitui uma minoria do DNA de uma célula. A maior parte do DNA não codifica proteínas e, portanto, não faz parte de genes. A expressão “um gene, uma proteína” resume o dogma central da biologia, de que a informação genética é transferida (codificada) do DNA para o RNA e deste para uma proteína ) ou mais tardio (supostamente mais relacionado a hábitos e exposição ambiental). Eles encontraram que história familiar de câncer de mama realmente parecia ser fator de risco ligado a casos mais precoces, porém também idade maior que 25 anos para o primeiro parto. Interessantemente, casos de início mais tardio de câncer de mama não mostraram correlação com a idade do primeiro parto. Ou seja, já nessa publicação dos anos 70, surgia uma pista de que fatores não hereditários estavam atuando no surgimento de casos de câncer de início precoce. O termo correspondente em português (câncer de início precoce) só vem surgir em trabalhos no Google Acadêmico (muito poucos) já deppis de 2020.

A esmagadora maioria das publicações científicas sobre esse tema (“early onset cancer”), entre os anos 70 e 2000, focava apenas em casos de câncer hereditário, relacionados a alterações genéticas conhecidas, e não diferenciavam uma faixa etária específica, incluindo às vezes desde crianças até a meia idade. A maior ênfase na definição de trabalho de Ugai (adultos com menos de 50 anos) veio realmente no século 21. Porém, de onde vem essa definição? Por que 50 anos é o ponto de corte? Não encontrei uma resposta direta, porém encontrei um trabalho de 1983 muito interessante sobre epidemiologia do câncer hereditário e idade ao diagnóstico, que tentava, pela primeira vez, demonstrar que a ocorrência de câncer em pessoas mais jovens do que esperado sinalizava algum fator hereditário de predisposição a câncer. Os autores dividiram o grupo de pacientes que eles estudaram (com história familiar de câncer) em grupos de acordo com a idade de maior frequência de diagnóstico de cada câncer. O grupo de “jovens” ficava abaixo do percentil 10 da distribuição de idades e o grupo “intermediário” ficava entre o percentil 10 e 45 dessa distribuição Percentil (estatística) neste contexto é uma medida estatística que indica a posição relativa de um valor dentro de um conjunto de dados ordenados. O percentil é o valor abaixo do qual uma certa porcentagem dos dados cai. Por exemplo, o 50º percentil (ou mediana) é o valor abaixo do qual 50% dos dados estão localizados. Se um aluno está no 90º percentil em uma prova, isso significa que ele obteve uma pontuação melhor do que 90% dos outros alunos que fizeram a mesma prova. O 10º percentil (ou percentil 10), por outro lado, indica que 10% dos dados estão abaixo desse valor. Os percentis são frequentemente usados para entender a distribuição de dados e identificar valores atípicos ou extremos. Eles são úteis em diversas áreas, como educação, saúde e finanças, para comparar desempenhos ou características entre diferentes grupos ou populações. . A mediana Mediana (estatística) é o valor que separa a metade maior e a metade menor de uma amostra, uma população ou uma distribuição de probabilidade. Em termos mais simples, mediana pode ser o valor do meio de um conjunto de dados. No conjunto de dados {1, 3, 3, 6, 7, 8, 9}, por exemplo, a mediana é 6. de idade dos pacientes do grupo “intermediário” foi de 53 anos, e sua média 49 anos. Faz sentido, assim, que a idade de 50 anos tenha sido usada com mais frequencia para diferenciar pacientes com câncer de início precoce do restante. Curiosamente, o trabalho de 1983 não conseguiu provar a correlação entre história familiar (hereditariedade) e câncer de início precoce!

A importância de manter vigilância epidemiológica nessa faixa etária é crescente, pois o diagnóstico precoce pode impactar significativamente o prognóstico e a qualidade de vida. Além disso, compreender os fatores associados ao aumento desses tumores pode ajudar a orientar políticas públicas e intervenções preventivas.

Como sabemos que a incidência aumentou?

Diversos registros populacionais de câncer ao redor do mundo têm mostrado aumento consistente na incidência de vários tipos de câncer de início precoce desde a década de 1990. O artigo de Ugai se refere apenas a adultos a partir de 20 anos e com menos de 50 anos, e não crianças e adolescentes. Ele analisou dados obtidos do Global Cancer Observatory (GLOBOCAN) sobre 14 tipos de câncer em adultos de 20 a 49 anos, em 44 países e identificou que, entre 2002 e 2012, houve aumento significativo em tumores como câncer colorretal, de mama, rim, fígado, pâncreas, estômago e outros.

Os autores calcularam o aumento percentual anual médio da incidência de cada câncer no período estudado. Por exemplo, a incidência de câncer colorretal em mulheres com menos de 50 anos aumentou, em média, em torno de 2% ao ano na Austrália, Canadá, Dinamarca, França, Japão, Holanda, Reino Unido, Turquia e EUA. No Equador e Coréia do Sul, esse aumento foi de quase 5% ao ano, indicando que esse fenômeno não ficou restrito a países desenvolvidos e ocidentais.

O artigo de Ugai et al. analisou tendências globais e mostrou que a incidência de câncer colorretal de início precoce aumentou de forma consistente em diversos países desde a década de 1990, tanto em nações desenvolvidas quanto em desenvolvimento. O aumento é observado mesmo em países sem programas de rastreamento sistemático para jovens adultos, sugerindo que não se trata apenas de maior detecção, mas de um fenômeno real. Esse padrão se repete para outros tumores, como mama, rim, fígado, pâncreas e estômago, conforme detalhado na revisão.

Já a revisão de di Martino et al. (2022) publicada no British Journal of Cancer (DOI: 10.1038/s41416-022-01704-x) partiu da constatação de um aumento de incidência de câncer colorretal, mais em países desenvolvidos e tentou confirmar isso para este e outros 11 tipos de câncer. Eles fizeram uma revisão da literatura publicada entre 1995 e 2020, incluindo 98 estudos (68 da América do Norte e 24 da Europa). A maioria dos estudos relatava apenas um tipo de câncer, 8 descreviam vários tipos. A meta-análise dos dados mostrou que a incidência de câncer colorretal em adultos com menos de 50 anos aumentou cerca de 1-3% ao ano em média, em ambos os sexos, na América do Norte (no Canadá, esse aumento chegou a 6-7% ao ano em menores de 30 anos). Na Europa, a mesma tendência foi documentada. Essa observação foi mais pronunciada quanto mais jovem era o grupo de pacientes (8% de aumento anual médio em pessoas de 20-29 anos entre 2004 e 2016). Na Austrália, o mesmo padrão se repetiu, mas os dados foram menos consistentes na Nova Zelândia. Uma outra informação obtida por esses autores: os casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos são mais agressivos e diagnosticados em estágio mais avançado. Essa constatação pode se dever a demora de diagnóstico pela menor suspeita dos clínicos nessa faixa etária.

Câncer de início precoce de mama, rim, útero, pâncreas, bexiga e laringe também apresentam aumento em diversos países, conforme destacado por ambos os trabalhos. Ressalte-se que esse crescimento é observado tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, refletindo mudanças em fatores de risco e estilos de vida, além de possíveis influências ambientais e comportamentais. A revisão de di Martino mostrou, porém, uma tendência a redução da incidência de câncer de pulmão de início precoce.

O artigo de Sung et al. (2024) publicado na Lancet Public Health (DOI: 10.1016/s2468-2667(24)00156-7) fez uma análise de um registro de base populacional de câncer nos EUA. Os autores usaram dados sobre incidência de 34 tipos de câncer e mortalidade de 25 tipos, em pacientes entre 24 e 85 anos de idade, diagnosticados entre 2000 e 2019. Eles compararam a incidência ajustada de acordo com a década de nascimento dos pacientes, de 1920 a 1990. O trabalho avaliou mais de 23 milhões de pacientes e mais de 7 milhões de mortes por câncer no período estudado. Eles descobriram que a incidência de 17 tipos de câncer (intestino delgado, rim e pelve renal, pâncreas, fígado, vias biliares intra-hepáticas, mama, útero, colon e reto, estômago, vesícula e outras vias biliares, ovário, testículo, ânus, sarcoma de Kaposi) aumentou em pessoas nascidas mais recentemente. Já em relação à mortalidade, ela estabilizou ou diminuiu para a maioria dos tipos de câncer (exceto fígado e vias biliares intra-hepáticas em mulheres).

Adicionalmente, a publicação de Teng et al. (2024) no Science China Life Sciences (DOI: 10.1007/s11427-023-2445-1) avaliou o relatório anual do China Cancer Registry, calculando incidência e mortalidade em pacientes com 25 tipos de câncer entre 20-49 anos, no período de 2000 a 2017. Os autores encontraram aumento da incidência de todos os casos combinados de câncer de início precoce, com um aumento médio anual de cerca de 1,5%, especialmente no grupo mais jovem. Também encontraram redução de mortalidade nesse grupo.

Esses dados mostram que o fenômeno do aumento de incidência do câncer de início precoce é global e não se restringe a alguns tipos de câncer, afetando diferentes regiões e contextos socioeconômicos, e não apenas o mundo desenvolvido.

Quais tipos de câncer estão aumentando mais rapidamente?

Os tumores do trato gastrointestinal são os que mais chamam atenção pelo aumento, especialmente colorretal, pâncreas, estômago e, de forma marcante, os tumores do trato biliar (como colangiocarcinoma e câncer de vesícula). O artigo da Nature Reviews Clinical Oncology e dados do Global Cancer Statistics 2024 mostram que, em países como Canadá, Suécia, Reino Unido e Bulgária, a incidência de câncer de trato biliar em adultos com menos de 50 anos aumentou em média entre 3% e 5% ao ano, chegando a 10% de aumento anual na Bielorrússia (isso, em uma década, chega a 100% de aumento de incidência!). O câncer de estômago de início precoce também teve crescimento expressivo nos EUA, Canadá, chegando a 4-5% de aumento médio anual na Irlanda do Norte, Inglaterra e Polônia.

O câncer de pâncreas de início precoce, embora ainda raro, aumentou sua incidência entre 1-3% ao ano, em países como Austrália, Canadá, França, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. O câncer de fígado também aumentou, especialmente na Austrália, Canadá, Espanha, Reino Unido, Escócia, Noruega (na Irlanda e Uganda, o aumento foi de mais de 9% ao ano!).

Essas diferenças regionais parecem refletir tanto fatores ambientais e comportamentais quanto padrões de rastreamento, dieta e prevalência de infecções.

Por que isso está acontecendo? Principais hipóteses

Ainda não há uma explicação única para o aumento do câncer de início precoce, mas os vários artigos destacam diversas hipóteses. Abaixo, listamos as principais ideias discutidas na literatura recente, de acordo com as fontes que consultamos. Essa é uma exposição rápida, deixamos uma discussão mais completa das possíveis causas e associações com exposições ambientais para uma segunda postagem.

Mudanças no estilo de vida: aumento do sedentarismo, obesidade, dietas ricas em ultraprocessados e pobres em fibras são apontados como fatores centrais em todos os artigos analisados.

Exposição precoce a fatores ambientais e comportamentais: exposição a poluentes, tabagismo passivo, álcool, disruptores endócrinos e outros agentes ambientais desde a infância/adolescência.

Alterações no microbioma intestinal: mudanças no microbioma Microbioma intestinal: É o conjunto de trilhões de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal humano. O microbioma influencia digestão, imunidade, metabolismo e até o funcionamento do sistema nervoso. , possivelmente relacionadas à dieta, uso de antibióticos e cesarianas, podem influenciar o risco de câncer.

Uso de antibióticos e outros medicamentos na infância: sugerido como fator de risco em vários estudos, mas ainda com evidências indiretas.

Fatores genéticos e epigenéticos: embora síndromes genéticas expliquem poucos casos, alterações epigenéticas induzidas por ambiente e estilo de vida são cada vez mais discutidas.

Sono, ritmo circadiano e exposição à luz artificial: alterações no padrão de sono e exposição à luz à noite podem ter papel no risco de câncer, especialmente em populações urbanas.

Infecções virais e bacterianas: hepatite, H. pylori e outros agentes infecciosos são relevantes para tumores hepáticos e gástricos em regiões específicas.

O artigo de di Martino et al. reforça que a maioria dos casos não é explicada por síndromes genéticas conhecidas, sugerindo papel importante de fatores ambientais e comportamentais adquiridos nas primeiras décadas de vida. Já o artigo da Nature Reviews Clinical Oncology de 2022 e o da Science China Life Sciences de 2024 enfatizam o papel do microbioma, dieta e exposições precoces como fatores centrais.

Impactos para a saúde pública

O aumento do câncer de início precoce representa um desafio crescente para sistemas de saúde em todo o mundo. Esses pacientes têm necessidades específicas, podem ser subdiagnosticados devido à baixa suspeita clínica e frequentemente enfrentam barreiras para acesso ao diagnóstico e tratamento adequados. Estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e pesquisa sobre causas são urgentes. Prevenção: conjunto de ações e hábitos que visam evitar o surgimento de doenças. No câncer, inclui não fumar, evitar álcool em excesso, manter alimentação saudável, praticar exercícios e proteger-se do sol.

Perspectivas: o que esperar do futuro?

Ainda há muitas incertezas sobre o futuro da incidência de câncer de início precoce. Os dados atuais sugerem que a tendência de aumento pode continuar, especialmente se fatores ambientais e comportamentais não forem modificados em escala populacional. No entanto, a compreensão das causas ainda é limitada e há necessidade de estudos longitudinais, investigações sobre exposições precoces e pesquisas que integrem dados genéticos, ambientais e do microbioma.

É possível que, com maior conscientização, políticas de saúde pública e avanços em rastreamento e prevenção, seja possível reverter ou ao menos desacelerar essa tendência. Por outro lado, sem mudanças estruturais e mais conhecimento sobre os mecanismos envolvidos, o aumento pode persistir nas próximas décadas. Portanto, o cenário exige vigilância epidemiológica contínua, colaboração internacional e investimento em pesquisa multidisciplinar.

Figura 1 de Ugai et al. 2022, Nature Reviews Clinical Oncology Figura 1 de Ugai et al. (2022), Nature Reviews Clinical Oncology: Tendências globais de incidência de câncer de início precoce (diagnosticados em adultos <50 anos) para 14 tipos de câncer, 2002–2012, em 44 países. Reproduzido do artigo original sob a licença Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0). Para detalhes completos, veja: Ugai T, et al. Nat Rev Clin Oncol. 2022;19(10):656-673. https://doi.org/10.1038/s41571-022-00672-8

Referências:

Ugai T, et al. Nature Reviews Clinical Oncology, 2022. https://doi.org/10.1038/s41571-022-00672-8

Sung H, et al. The Lancet Public Health, 2024. https://doi.org/10.1016/s2468-2667(24)00156-7

di Martino E, et al. British Journal of Cancer, 2022. https://doi.org/10.1038/s41416-022-01704-x

Teng Y, et al. Science China Life Sciences, 2024. https://doi.org/10.1007/s11427-023-2445-1

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