Um tratamento inédito para tumor cerebral

30 Abril 2018

Escrito por Francisco H. C. Felix

Numa revisão publicada no número 3 do volume 137 do Journal of Neuro-Oncology, o Dr. Rick da UCSF e colegas explicam o Tumor Treating Fields (TTF), novo tratamento que foi incorporado ao tratamento padrão do glioblastoma Glioblastoma (GBM), anteriormente conhecido como glioblastoma multiforme, é o tipo mais comum e agressivo de tumor maligno cerebral que acomete os seres humanos. Em crianças e adolescentes, o GBM é incomum, e os tumores cerebrais malignos mais frequentes são meduloblastomas. Além disso, a biologia molecular dos GBM pediátricos é diferente e seu tratamento não é o mesmo que em adultos. , tumor cerebral mais frequente e mais letal em adultos.

O TTF constitui um conceito inédito de tratamento, uma nova modalidade terapêutica baseada num mecanismo de ação nunca antes explorado. O TTF usa campos elétricos Um campo elétrico é o campo de força provocado pela ação de cargas elétricas, (elétrons, prótons ou íons) ou por sistemas delas. Cargas elétricas colocadas num campo elétrico estão sujeitas à ação de forças elétricas, de atração e repulsão. aplicados ao crânio dos pacientes para inibir o crescimento de células tumorais. O efeito de campos elétricos na biologia celular tem sido explorado há bastante tempo, mas não sem controvérsias. A técnica de eletroporação usa campos elétricos de alta intensidade e alta frequência para permitir a transferência de DNA através de membranas celulares. Já campos elétricos de intensidade moderada já haviam mostrado alterar a orientação de estruturas celulares. Em 2004, Kirson e colegas demonstraram que campos elétricos de baixa intensidade e frequência intermediária podiam inibir a replicação de células tumorais in vitro. Posteriormente, os mesmos pesquisadores mostraram a inibição do crescimento de tumores em diversas espécies animais. No entanto, desde o início a recepção desde nova modalidade de tratamento foi variável, devido ao ceticismo sobre seu mecanismo de ação e ao fato de que era difícil reproduzir os resultados.

O primeiro ensaio clínico Ensaios clínicos são estudos realizados para testar a segurança (informações sobre eventos adversos) e a eficácia de intervenções de saúde (por exemplo, drogas, exames de diagnóstico, dispositivos, protocolos de terapia). São realizados após estudos pré-clínicos (in vitro e em animais) terem demonstrado o potencial de benefício do procedimento testado. Precisam de aprovação de autoridades sanitárias e comissões de ética. usando TTF para tratar tumores cerebrais, o estudo EF-11 publicado em 2012, comparou TTF com tratamento padrão para pacientes com glioblastoma recidivado. Ele não mostrou uma vantagem do TTF em termos de efeito antitumoral, porém mostrou menos efeitos adversos e melhor qualidade de vida para os pacientes. O estudo subsequente EF-14 comparou pacientes recém diagnosticados com glioblastoma, tratados com o quimioterápico Quimioterapia refere-se ao tratamento de doenças por substâncias químicas que afetam o funcionamento celular. Pode ser quimioterapia antimicrobiana, quimioterapia antiviral, quimioterapia anticâncer, etc. Popularmente, o termo refere-se à quimioterapia anticâncer ou antineoplásica, um dos tratamentos do câncer onde são utilizadas drogas capazes de induzir morte celular. As células de câncer são mais sensíveis à quimioterapia, por se multiplicarem rapidamente. Células normais também podem ser afetadas, ocasionando diversos efeitos colaterais, como a queda de cabelo. temozolomida apenas ou com TTF + temozolomida. Os seus resultados, publicados em 2017, mostraram uma vantagem de sobrevida nos pacientes que associaram TTF com a quimioterapia. Isso levou à adoção do TTF como tratamento padrão do glioblastoma de adulto, juntamente com a temozolomida.

O novo tratamento com TTF tem características e limitações únicas. Os pacientes devem raspar completamente os cabelos e colocar um conjunto de eletrodos que permanecem 24h por dia no couro cabelo e são trocados a cada 3-4 dias. Além disso, eles precisam carregar um conjunto de baterias portáteis que precisam ser trocadas a cada poucas horas, enquanto outro conjunto carrega. Apesar das dificuldades e limitações que os pacientes enfrentam para usar o aparato, a aderência ao tratamento tem sido maior que 75%. O principal efeito colateral é a irritação da pele no local em que os eletrodos são aplicados, que geralmente é leve, mas leva 1-2% dos pacientes a interromper o tratamento. O custo do tratamento, atualmente em torno de 21 mil dólares por mês, também é uma limitação a sua adoção generalizada.

Mais pesquisas estão sendo realizadas com TTF para tumores cerebrais, e várias possibilidades interessantes são vislumbradas. Entre elas, o uso de TTF em crianças e adolescentes e antes da radioterapia A radioterapia é uma modalidade de tratamento que utiliza uma radiação ionizante (raios X, raios gama, partículas beta, etc) para a terapia de tumores, principalmente os malignos. Baseia-se na destruição das células tumorais pela absorção da energia da radiação, causando morte celular. O princípio básico maximiza o dano no tumor e minimiza o dano em tecidos vizinhos normais, irradiando uma região de várias direções diferentes, o que “focaliza” a radiação na área alvo. para amplificar seu efeito. Outras drogas, inclusive agentes biológicos e terapia alvo Terapia alvo é uma das modalidades de tratamento médico (farmacoterapia) para o câncer, sendo que outras são terapia hormonal e quimioterapia citotóxica. A terapia alvo bloqueia o crescimento de células cancerígenas interferindo com moléculas específicas necessárias para a carcinogênese e o crescimento do tumor, ao invés de simplesmente interferir com todas as células que se dividem rapidamente (por exemplo, com quimioterapia tradicional). Como a maioria dos agentes para terapia direcionada é biofarmacêutica, o termo terapia biológica é às vezes sinônimo de terapia alvo quando usada no contexto da terapia do câncer (e, portanto, distinta da quimioterapia, isto é, terapia citotóxica). , estão sendo testados em combinação com TTF para tratar glioblastoma. Uma nova modalidade de terapia oncológica está nascendo, e sua utilização em combinação com as outras modalidades clássicas, cirurgia, radioterapia e quimioterapia, ou com outras modalidades novas, como imunoterapia, promete modificar para sempre o modo como os tumores cerebrais são tratados.

Tumor Treating Fields

Figura: aparato usado para aplicar os TTF (campos elétricos terapêuticos) no crânio dos pacientes.

Esta postagem não representa sugestão de tratamento. Apenas um especialista pode judiciosamente decidir quais informações divulgadas podem modificar de alguma forma um esquema de tratamento, e de que forma.

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