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Como o propranolol age em hemangiomas e outros tumores

3 Junho 2018

O propranolol Propranolol: fármaco anti-hipertensivo indicado para o tratamento e prevenção do infarto do miocárdio, da angina, de arritmias cardíacas, bem como da enxaqueca. Pode ser utilizado associado ou não a outros medicamentos para o tratamento da hipertensão arterial. É um bloqueador de receptores beta adrenérgicos (betabloqueador). Em 2008, uma publicação no New England Journal of Medicine mostrou que o propranolol pode induzir a regressão rápida de hemangiomas infantis. é usado no tratamento de hemangiomas Hemangioma (gr haema = sangue; angeio = vaso; oma = tumor) são tumores vasculares benignos formados por um crescimento anormal de capilares sanguíneos que geralmente não causam danos, apenas são desagradáveis esteticamente. São mais comuns na pele, especialmente na cabeça e pescoço, mas podem aparecer em vários órgãos, como mucosas, fígado, intestino, árvore respiratória, cérebro, etc. Também chamados hemangiomas infantis ou hemangiomas capilares. Surgem logo após o nascimento, crescem rapidamente no primeiro ano de vida (fase proliferativa) e regridem espontaneamente a um ritmo de cerca de 10% ao ano (desaparecendo em até 9 anos mais ou menos). infantis complicados com excelente resposta, porém como ele age na proliferação das células de hemangiomas ainda precisa ser esclarecido. Um trabalho publicado agora na Arteriosclerosis, Thrombosis, and Vascular Biology informa que um dos possíveis mecanismos talvez torne o propranolol uma boa medicação para ajudar no tratamento de câncer Câncer (lat cancer = caranguejo): grande grupo de doenças muito diferentes entre si, tendo em comum a proliferação celular incessante e desordenada, a capacidade de invadir localmente tecidos saudáveis do organismo e a capacidade de se espalhar para locais distantes (metástases). Os diversos tipos de câncer são teoricamente oriundos de uma única célula (origem clonal) a qual sofreu mutações em seu código genético. Saiba mais aqui. .

Hemangiomas infantis(HI) são os tumores vasculares benignos mais comuns em crianças, e são caracterizados por uma fase de rápido crescimento logo após o nascimento. a qual é seguida pela redução espontânea lenta das lesões. O uso de propranolol em pacientes com HI complicados deflagra a sua redução rápida, antecipando a involução das lesões. No entanto, a razão pela qual isso ocorre até hoje não é clara. O efeito parece não se dever ao mecanismo beta-bloqueador que é o responsável pelos efeitos cardiovasculares do propranolol.

A sinalização celular A sinalização celular faz parte de um complexo sistema de comunicação que governa e coordena as atividades e funções celulares. As células são capazes de se comunicar entre si através de sinais químicos, e esses sinais iniciam funções como a produção de hormônios, o crescimento celular, a morte celular programada e muitas outras. Alterações da sinalização celular ocorrem em doenças como o câncer, diabetes e doenças imunológicas. pela via LIN28B/let-7 tem um papel central na renovação de células-tronco Células tronco ou células-tronco são células imaturas que tem a capacidade de se dividir e darem origem a diversos tipos celulares diferentes. Elas passam pelo processo de multiplicação e diferenciação (quando adquirem características maduras) respondendo a sinais químicos (sinalização celular). Durante a vida embrionária, as células tronco existem em grande quantidade e dão origem a todos os tecidos do organismo. Mesmo na vida adulta, porém, uma pequena quantidade de células tronco permanece ativa em todos os tecidos vivos, com a capacidade de multiplicação mantida. No câncer, os tumores também contém célilas tronco tumorais, capazes de refazer o tumor completamente depois que ele é retirado por cirurgia ou destruído pela radio ou quimioterapia. e no crescimento tumoral. A molécula LIN28B é expressada em grande quantidade em células de HI durante a fase proliferativa. A expressão desse marcador molecular reduz bastante na fase de regressão natural do HI e também durante a regressão induzida por propranolol. Os autores do artigo testaram o propranolol em uma cultura de células-tronco, observando uma grande redução da expressão da molécula LIN28B e de outras moléculas relacionadas. Além disso, o propranolol não somente conseguiu reduzir a velocidade de crescimento das células-tronco, mas também induziu a transição epitelial-mesenquimal, uma forma de diferenciação celular que ocorre naturalmente nos HI na fase regressiva.

Em conjunto, esses resultados indicam que o propranolol é capaz de deflagar a redução dos HI através de um novo mecanismo molecular, antes desconhecido, de ação do propranolol. Além disso, a inibição da via LIN28B/let-7 observada durante o tratamento com propranolol pode representar um mecanismo anticâncer do propranolol, agindo nas células-tronco tumorais, que em geral são altamente resistentes à quimioterapia. Em especial, tumores onde essa via de sinalização celular esteja desregulada podem ser alvos potenciais do tratamento com propranolol.

Células-tronco ⟹ diferenciação ⟹ células diferenciadas
LIN28   let-7
Tumores agressivos ⟸ transformação ⟸ células normais
Reparo de tecidos ⟸ cicatrização ⟸ lesão tecidual
Células-tronco pluripotentes ⟸ reprogramação ⟸ células diferenciadas
induzidas    

Tabela: O equilíbrio entre moléculas LIN28 e let-7. Em células tronco indiferenciadas, a expressão das moléculas LIN28 bloqueia a produção de moléculas let-7. Quando as células se diferenciam, a expressão de LIN28 cai e as moléculas let-7 são produzidas. Células que se transformam (câncer, cicatrização, indução de células-tronco) voltam a ter elevada expressão de LIN28.

Dois tipos tumorais onde existe alteração da via LIN28/let-7 são o Tumor embrionário formador de rosetas multilaminadas (ou multicamadas) (um tipo raro de tumor cerebral), anteriormente conhecido como ependimoblastoma, e o glioma difuso de linha média H3K27M+, também conhecido como tumor difuso de tronco cerebral. Cânceres como esse poderiam ser alvos potenciais da inibição observada com o uso do propranolol. A ativação dessa via de sinalização também já foi demonstrada no melanoma, um tumor de pele extremamente agressivo. Recentemente, um trabalho publicado De Giorgi V, Grazzini M, Benemei S, et al. Propranolol for Off-label Treatment of Patients With MelanomaResults From a Cohort Study. JAMA Oncol. 2018;4(2):e172908. doi:10.1001/jamaoncol.2017.2908 no Journal of the American Medical Association (JAMA) Oncology mostrou que o tratamento com propranolol conseguiu diminuir em 80% o risco de recorrência em pacientes com melanoma.

Aparentemente, o propranolol é a próxima droga antiga a ter um uso na oncologia descoberto recentemente, algo denominado reposicionamento. Será que o propranolol vai se tornar uma medicação anticélulas-tronco tumorais e antirrecorrência do câncer?

Esta postagem não representa sugestão de tratamento. Apenas um especialista pode judiciosamente decidir quais informações divulgadas podem modificar de alguma forma um esquema de tratamento, e de que forma.

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