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Os padrões de recidiva nos pacientes com ependimoma localizado

14 Maio 2018

Escrito por Francisco H. C. Felix

No número 2 do volume 138 do Journal of Neuro-Oncology (JNO), um estudo avaliou o modo como ocorrem as recidivas em criança e adolescentes portadores de ependimomas Ependimomas são um grupo de tumores gliais (gliomas) derivados das células da glia radial, as quais estão em íntimo contato com o epêndima, camada que reveste a superfície ventricular. São mais comuns no quarto ventrículo na fossa posterior e mais raramente ocorrem nos ventrículos laterais e III ventrículo. Representam menos de 10% dos tumores primários do SNC, porém constituem o terceiro tipo de tumor cerebral mais frequente em crianças. Apesar de poderem ser divididos em baixo grau e alto grau, assim como outros gliomas, essa divisão não faz muita diferença em seu comportamento, e sempre são tratados como câncer na faixa etária pediátrica. intracranianos localizados. Os pesquisadores tentavam entender os principais locais de recidiva, o tempo entre o primeiro tratamento e o ressurgimento da lesão e os fatores que influenciam a chance e o padrão de recorrência.

Os ependimomas são tumores cerebrais malignos mais comuns em crianças jovens, e são o terceiro tipo de tumor cerebral mais frequente em crianças e adolescentes. Pesquisadores do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e do Weill Cornell Medical College, em Nova Iorque, realizaram um estudo retrospectivo Estudos retrospectivos: ou estudos observacionais, analisam dados de pacientes tratados ou seguidos previamente e anotados em prontuários. Como o estudo é planejado e realizado após o procedimento analisado, não há chance de modificar os parâmetros envolvidos, logo, não se pode controlar fatores que podem alterar ou confundir os resultados. Assim, ao contrário de ensaios clínicos (planejados antes de um procedimento, neste caso chamado de intervenção), os estudos observacionais não podem ser conclusivos, e são considerados exploratórios (geram novos conhecimentos que são usados para criar teorias e planejar ensaios). com crianças e adolescentes diagnosticados com ependimoma intracraniano não metastático entre 1984 e 2015.

Seu intuito foi de investigar o padrão como ocorreram as recidivas nestes pacientes, quantos pacientes apresentaram recidiva, quais os locais de recorrência, qual o tempo entre o primeiro tratamento e o surgimento de uma nova lesão. Para tanto, estudaram os dados de prontuários dos pacientes, fazendo revisão central de histologia e imagens.

O grupo de pesquisa encontrou 82 pacientes no período investigado, com uma mediana Mediana (estatística) é o valor que separa a metade maior e a metade menor de uma amostra, uma população ou uma distribuição de probabilidade. Em termos mais simples, mediana pode ser o valor do meio de um conjunto de dados. No conjunto de dados {1, 3, 3, 6, 7, 8, 9}, por exemplo, a mediana é 6. de idade de 4 anos, sendo que 40% tinha menos de 3 anos. Pouco mais de 50% dos pacientes era do sexo masculino, 2 terços tinham tumores na fossa posterior e também 2 terços eram anaplásicos (grau III da OMS Classificação de Tumores do Sistema Nervoso Central (SNC) da Organização Mundial de saúde (OMS): atualmente na quarta edição, é um conjunto de regras para diagnosticar tipos e subtipos específicos de tumores cerebrais, baseando-se em seu aspecto histológico. Na nova edição, além disso, somam-se, pela primeira vez, informações moleculares. A OMS divide os tumores do SNC em quatro grandes grupos: grau I e grau II (ambos conhecidos como baixo grau de malignidade), constituem tumores com comportamento em geral benigno; grau III e grau IV (alto grau de malignidade), constituem tumores aspecto maligno. Nem sempre essa classificação prediz o comportanto dos tumores. Para astrocitomas, a diferença entre baixo e alto grau é enorme, já para ependimomas é muito pequena. ).

O tratamento envolveu cirurgia para praticamente todos os pacientes, sendo que a ressecção foi total em 2/3 dos pacientes. Em cinco pacientes cirurgia second look foi realizada a fim de se obter ressecção total no segundo momento. Também 2/3 dos pacientes recebeu radioterapia A radioterapia é uma modalidade de tratamento que utiliza uma radiação ionizante (raios X, raios gama, partículas beta, etc) para a terapia de tumores, principalmente os malignos. Baseia-se na destruição das células tumorais pela absorção da energia da radiação, causando morte celular. O princípio básico maximiza o dano no tumor e minimiza o dano em tecidos vizinhos normais, irradiando uma região de várias direções diferentes, o que “focaliza” a radiação na área alvo. (RT), e a mediana de dose foi 55,8 Gy. Várias modalidades de RT foram usadas, incluindo IMRT e próton. A mediana de intervalo entre a cirurgia e a radioterapia foi de 48 dias. Pouco mais de um terço dos pacientes recebeu quimioterapia Quimioterapia refere-se ao tratamento de doenças por substâncias químicas que afetam o funcionamento celular. Pode ser quimioterapia antimicrobiana, quimioterapia antiviral, quimioterapia anticâncer, etc. Popularmente, o termo refere-se à quimioterapia anticâncer ou antineoplásica, um dos tratamentos do câncer onde são utilizadas drogas capazes de induzir morte celular. As células de câncer são mais sensíveis à quimioterapia, por se multiplicarem rapidamente. Células normais também podem ser afetadas, ocasionando diversos efeitos colaterais, como a queda de cabelo. (QT).

Após uma mediana de seguimento de 4,6 anos, 74% dos pacientes havia apresentado recidiva. A mediana do intervalo entre o primeiro tratamento e a recidiva foi de 1,5 anos. Do total de pacientes apresentando recidiva, 67% tiveram recorrência local, o restante apresentou recidiva distante. Dentre os pacientes que tiveram ressecção cirúrgica completa, 67% tiveram recidiva. Não parece ter ocorrido diferença importante entre os pacientes que fizeram ou não RT.

No grupo de pacientes recidivados, 74% dos pacientes apresentou outra recaída adicional após novo tratamento. A maioria dos pacientes apresentou pelo menos duas recaídas. As recidivas foram tratadas com cirurgia (83% dos pacientes), RT (82%) e QT (73%). Dois terços dos pacientes recidivados faleceu no período de seguimento, em um tempo mediano de 2,4 anos.

Adicionalmente, os autores relataram que, em seu estudo, a ressecção completa mostrou-se fator prognóstico relacionado a menor chance de recidiva, o que é congruente com o que se conhece sobre a doença. No entanto, ao contrário do esperado, a idade menor que 5 anos também mostrou-se um fator de prognóstico associado com menor risco de recidiva. Para explicar isso, os autores imaginam que ocorreram mais ressecções completas neste grupo, além do tratamento com RT e QT.

Nos últimos ensaios clínicos levada a cabo naquela instituição, em conjunto com o Children’s Oncology Group, a RT conformacional local foi incluída como terapia em pacientes menores do que 3 anos, o que ainda não é rotina em muitas partes do mundo. Esse fato põe ter contribuído para a redução de risco neste grupo.

O tratamento dos ependimomas em crianças e adolescentes, ao contrário do que ocorre em adultos, ainda não tem resultados ideais, devido à grande chance de recaída, especialmente local, e muitas vezes múltipla. Os pacientes com ependimoma acabam sendo tratados múltiplas vezes ao longo de anos, com várias recorrências nesse período. O tratamento padrão é a ressecção cirúrgica completa e a RT, a qual parece estar se impondo mesmo em lactentes jovens com menos de 3 anos.

O papel da QT no tratamento destes pacientes é controverso e limitado. A proposta atual, em teste em um grande ensaio clínico, é de usar uma QT rápida após a cirurgia subtotal para permitir ressecção completa numa cirurgia second look. Ainda não existem dados conclusivos sobre isso.

Figura: ependimoma do quarto ventrículo. A maioria das recidivas dos ependimomas é local. Créditos Hellerhoff CC BY-SA 3.0, da Wikimedia Commons

Esta postagem não representa sugestão de tratamento. Apenas um especialista pode judiciosamente decidir quais informações divulgadas podem modificar de alguma forma um esquema de tratamento, e de que forma.

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