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Alergia e o risco de desenvolver tumores cerebrais

13 Maio 2018

Escrito por Francisco H. C. Felix

No número 2 do volume 138 do Journal of Neuro-Oncology (JCO), um grupo de pesquisadores franceses publicou um trabalho investigando se as alegações de que a alergia reduz o risco de tumores cerebrais seriam verdade ou não.

Já há muitos anos que relatos de estudos epidemiológicos dão conta de uma relação inversa entre a ocorrência de várias formas de alergia e o risco de gliomas Glioma é um tumor de células gliais, células que protegem, nutrem e dão suporte aos neurônios, podendo ocorrer no encéfalo, na medula espinhal ou mesmo junto a nervos periféricos. São responsáveis por aproximadamente 30% de todos os tumores do sistema nervoso central e por 80% dos tumores malignos primários no cérebro. Podem ser classificados em gliomas de baixo grau (de comportamento geralmente benigno) ou gliomas de alto grau (malignos). Em crianças e adolescentes, ao contrário de adultos, gliomas malignos são menos comuns. . No entanto, nenhum trabalho explorou a fundo a influência de variáveis de confundimento ambientais. Para tentar elucidar essa relação, um grupo de pesquisadores ligados ao Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (INSERM) examinou os dados do estudo CERENAT (CEREbral tumors: a NATional study). O CERENAT foi um estudo caso-controle Caso-controle: é um estudo retrospectivo, no qual os participantes são selecionados entre indivíduos que já têm a doença (casos) e entre indivíduos que não a têm (controles); em cada um desses dois grupos, verifica-se o número de indivíduos expostos a algum fator de risco. 0 objetivo é verificar a possível existência de associação causal entre a exposição aos fatores de risco e a doença em estudo. Se o fator está associado à doença, a proporção do fator entre os casos será maior do que entre os controles. Este tipo de estudo tem grande aplicação para as situações em que a doença é pouco freqüente e o tempo decorrido entre a exposição ao risco e seu efeito é longo. realizado em 4 áreas da França entre 2004 e 2010.

Informações detalhadas sobre o histórico de alergias (incluindo asma, eczema atópico, rinite alérgica e outros) foi coletado no início do estudo. Pacientes com gliomas e meningiomas Meningioma é um tumor das membranas meningeas que envolvem o sistema nervoso central (SNC). Na maioria dos casos são benignos e de crescimento lento. Podem variar muito no tamanho, de poucos milímetros até muitos centímetros. Representam 36% dos tumores primários do SNC. São mais comuns entre os 40 e 60 anos e em mulheres, sendo raros em crianças. foram comparados com controles das mesmas regiões. Os pesquisadores realizaram uma análise de regressão logística ajustando os dados para o nível de escolaridade e uso de telefonia móvel (originalmente, o estudo foi desenhado para avaliar a relação entre o risco de desenvolver tumores cerebrais e o uso de celulares).

A pesquisa comparou 273 pacientes com gliomas e 218 pacientes com meningiomas com 982 controles pareados. Os resultados mostraram uma significativa associação inversa entre ter qualquer alergia e o risco de desenvolver um glioma. A razão de possibilidades (odds ratio em inglês) para o desenvolvimento de gliomas foi de 0,52 em portadores de qualquer tipo de alergia e 0,46 em portadores de rinite alérgica. Isso significa que a probabilidade de desenvolvimento de um glioma em um portador de rinite alérgica foi menos da metade da probabilidade de desenvolvimento de glioma em uma pessoa em geral, nesse estudo.

Em relação ao risco do desenvolvimento de meningiomas, a pesquisa não mostrou qualquer relação com alergia de nenhum tipo. O estudo mostrou, no entanto, que a associação entre alergias e risco de ter um glioma foi mais acentuada em mulheres.

O grupo responsável pela pesquisa ainda não tem nenhuma teoria sobre as causas dessa associação. É possível que um mecanismo imunológico específico ainda não conhecido esteja agindo e inibindo o crescimento de células de glioma. O recente aumento de interesse em imunoterapia do câncer mostra que essa é uma vertente ampla para o desenvolvimento de possíveis novos tratamentos.

Figura: glioma de linha média com extensão para os tálamos bilateralmente. Créditos Griselda Ramírez, CC BY-SA 2.0

Esta postagem não representa sugestão de tratamento. Apenas um especialista pode judiciosamente decidir quais informações divulgadas podem modificar de alguma forma um esquema de tratamento, e de que forma.

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