Humanização da consulta oncológica e evidência na pesquisa clínica

19 Abril 2018

Escrito por Francisco H. C. Felix

Nesta semana, o Journal of Clinical Oncology (JCO) publicou os resultados de uma pesquisa do MD Anderson Câncer Center que avaliou a percepção de pacientes com câncer Câncer (lat cancer = caranguejo): grande grupo de doenças muito diferentes entre si, tendo em comum a proliferação celular incessante e desordenada, a capacidade de invadir localmente tecidos saudáveis do organismo e a capacidade de se espalhar para locais distantes (metástases). Os diversos tipos de câncer são teoricamente oriundos de uma única célula (origem clonal) a qual sofreu mutações em seu código genético. Saiba mais aqui. avançado sobre a humanização da consulta oncológica.

Pacientes com mais de 18 anos e câncer avançado foram recrutados para a pesquisa na Clinica de Cuidados Paliativos e assistiram dois vídeos que mostravam uma encenação artística de consulta médica. Em um dos vídeos, o médico atendia o paciente com um notepad, sem usar outros equipamentos eletrônicos (consulta face a face). No outro vídeo, o médico usava um computador de mesa padrão para tomar notas (consulta com computador). Todos os pacientes assistiram aleatoriamente aos dois vídeos, respondendo um questionário após cada exibição. Nem os atores que fizeram os vídeos e nem os pacientes conheciam os objetivos da pesquisa.

Ao avaliar diversas características nos vídeos, os pacientes davam uma nota para a humanização, as habilidades de comunicação e o profissionalismo da consulta. Ao final do estudo, a consulta face a face, sem outro intermediário que não um notepad, ganhou escores bem superiores à consulta com computador. Os pesquisadores responsáveis teorizam que os pacientes sentem-se bem mais acolhidos quando o médico conversa com eles sem ter que interromper para escrever no computador de mesa. Eles alertam que talvez seja muito mas a atitude do médico, e não a presença do computador, que faça a diferença. Essa é a primeira pesquisa desse tipo realizada, e os pesquisadores planejam mais estudos para esclarecer esta e outras dúvidas.

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No editorial desta semana do JCO, o Dr. Chang, também do MD Anderson Cancer Center, discute qual a melhor evidência para decidir sobre a aplicação de um determinado tratamento para o câncer. Nesse caso específico, o tratamento em julgamento era a quimioterapia adjuvante (QTa) Quimioterapia refere-se ao tratamento de doenças por substâncias químicas que afetam o funcionamento celular. Pode ser quimioterapia antimicrobiana, quimioterapia antiviral, quimioterapia anticâncer, etc. Popularmente, o termo refere-se à quimioterapia anticâncer ou antineoplásica, um dos tratamentos do câncer onde são utilizadas drogas capazes de induzir morte celular. As células de câncer são mais sensíveis à quimioterapia, por se multiplicarem rapidamente. Células normais também podem ser afetadas, ocasionando diversos efeitos colaterais, como a queda de cabelo. após cirurgia seguida de radioquimioterapia para tratar câncer de reto. A questão era se 6 meses de QTa após o tratamento padrão trazia algum benefício para os pacientes. Embora a primeira vista pareça ser um resultado lógico (QTa deve ser benéfica), na prática, raramente as conclusões são tão lineares em oncologia.

O organismo humano é muito complexo, e assim são suas doenças. É difícil observar correlações óbvias quando o assunto se trata de saúde humana, e mais ainda quando o caso é câncer. A única forma de ter certeza de que um tratamento realmente funciona e não traz apenas o risco de efeitos colaterais desnecessários é realizar um teste, um estudo clínico. Existem dois grandes grupos de estudos clínicos, os estudos retrospectivos Estudos retrospectivos: ou estudos observacionais, analisam dados de pacientes tratados ou seguidos previamente e anotados em prontuários. Como o estudo é planejado e realizado após o procedimento analisado, não há chance de modificar os parâmetros envolvidos, logo, não se pode controlar fatores que podem alterar ou confundir os resultados. Assim, ao contrário de ensaios clínicos (planejados antes de um procedimento, neste caso chamado de intervenção), os estudos observacionais não podem ser conclusivos, e são considerados exploratórios (geram novos conhecimentos que são usados para criar teorias e planejar ensaios). , ou observacionais e os estudos prospectivos.

Nos estudos prospectivos, um planejamento rigoroso é realizado que inclui que tipo de paciente tratar, quando aplicar o tratamento, quais exames realizar e todos os detalhes possíveis para ter certeza que os dois grupos de pacientes (o tratado e não tratado, ou controle) são o mais parecidos possível (exceto pelo tratamento administrado). Além disso, medidas são tomadas para que os examinadores não possam interferir de nenhuma maneira (nem mesmo inconscientemente) com os resultados. Os médicos e outros envolvidos não sabem quem está recebendo o tratamento e quem não está (a isto se chama cegamento). Estes estudos são também chamados de ensaios clínicos Ensaios clínicos são estudos realizados para testar a segurança (informações sobre eventos adversos) e a eficácia de intervenções de saúde (por exemplo, drogas, exames de diagnóstico, dispositivos, protocolos de terapia). São realizados após estudos pré-clínicos (in vitro e em animais) terem demonstrado o potencial de benefício do procedimento testado. Precisam de aprovação de autoridades sanitárias e comissões de ética. randomizados duplo-cegos, e constituem um dos melhores padrões de evidência para a medicina clinica.

Os estudos retrospectivos estudos grupos de pacientes após o tratamento ter sido aplicado, normalmente como parte do tratamento rotineiro de pacientes não selecionados. Estes estudos são também chamados de estudos observacionais e, por natureza, são muito menos rigorosos que os ensaios clínicos. Pelo mesmo motivo, as conclusões destes estudos não podem ser generalizadas facilmente e nem receber o status de certeza científica, uma vez que uma série de fatores imprevistos (fatores de confundimento) podem interferir com seus resultados. Assim, via de regra, estudos observacionais são muito usados para criar teorias, mas não para comprová-las, o que ficaria para os ensaios clínicos.

O Dr. Chang chamou a atenção para dois estudos observacionais com grande número de pacientes e que, apesar de terem recebido um rigoroso tratamento metodológico e estatístico para minimizar o confundimento, não conseguem, pela sua própria natureza, fechar a questão com a certeza necessária sobre a decisão de realizar QTa ou não. Mais uma vez, deve-se lembrar que a evidência para corroborar uma decisão tão séria como realizar um tratamento com a capacidade de causar sérios efeitos adversos deve ser a mais rigorosa possível, e infelizmente estudos observacionais normalmente não conseguem dar esse alto grau de certeza.

Figura: a tecnologia pode surpreendentemente ajudar a humanizar a prática médica e aproximar pacientes e profissionais. Créditos Domínio Público.

Esta postagem não representa sugestão de tratamento. Apenas um especialista pode judiciosamente decidir quais informações divulgadas podem modificar de alguma forma um esquema de tratamento, e de que forma.

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