Propranolol reduz o risco de recorrência em pacientes com melanoma

10 Fevereiro 2018

Escrito por Francisco H. C. Felix

Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) Oncology mostrou que o uso de propranolol Propranolol: fármaco anti-hipertensivo indicado para o tratamento e prevenção do infarto do miocárdio, da angina, de arritmias cardíacas, bem como da enxaqueca. Pode ser utilizado associado ou não a outros medicamentos para o tratamento da hipertensão arterial. É um bloqueador de receptores beta adrenérgicos (betabloqueador). Em 2008, uma publicação no New England Journal of Medicine mostrou que o propranolol pode induzir a regressão rápida de hemangiomas infantis. reduziu em mais de 80% o risco de recaída em pacientes que foram tratados para melanoma, um dos tipos mais agressivos de câncer Câncer (lat cancer = caranguejo): grande grupo de doenças muito diferentes entre si, tendo em comum a proliferação celular incessante e desordenada, a capacidade de invadir localmente tecidos saudáveis do organismo e a capacidade de se espalhar para locais distantes (metástases). Os diversos tipos de câncer são teoricamente oriundos de uma única célula (origem clonal) a qual sofreu mutações em seu código genético. Saiba mais aqui. em seres humanos.

Pesquisadores de Florença, Itália, publicaram os resultados de um estudo que testou o uso off-label de propranolol para tratar o melanoma. Pacientes com melanoma estádio IB a IIIA, sem metástases ao diagnóstico, foram incluídos no estudo. Desde o diagnóstico, eles receberam 80mg de propranolol por dia. O grupo de pacientes que não desejou fazer parte do teste foi usado como controle.

Os cientistas seguiram os pacientes, avaliando o surgimento de recaídas e metástases e anotando a causa e data do óbito daqueles que faleciam. Com estes dados, eles calcularam o tempo para a progressão dos pacientes.

Os resultados mostraram que, de 53 pacientes incluídos no estudo, a redução de risco de recaída ou progressão da doença foi de 80% nos 19 pacientes que receberam o propranolol (3 deles apresentaram recaída), comparandos com os 34 pacientes que preferiram não tomar a medicação (14 deles apresentaram recaída). Comparando-se os grupos com um teste de log-rank, a sobrevida livre de progressão foi de 89% no grupo tratado contra 64% no grupo controle, uma diferença estatisticamente significatica (p < 0,05).

Este foi o primeiro estudo prospectivo que avaliou o uso de um betabloqueador no tratamento do câncer. Os autores frisam que trata-se de um estudo pequeno, realizado em um único centro e com seguimento curto, o que não autoriza que sejam tiradas conclusões definitivas. Serão necessários estudos maiores, melhor desenhados, multicêntricos, para confirmar esse efeito do propranolol no melanoma.

Os pesquisadores especulam que esse efeito encontrado possa dever-se à influência do estresse, via liberação de adrenalina e noradrenalina no organismo, na progressão dos tumores. Essa relação ainda é controversa, mas alguns estudos apontam a possibilidade de que o estresse crônico e a depressão, condições onde existem níveis aumentados de adrenalina e noradrenalina, possam afetar negativamente os pacientes com câncer.

Além disso, os beta-bloqueadores, em especial o propranolol, tem sido usados para tratar hemangiomas Hemangioma (gr haema = sangue; angeio = vaso; oma = tumor) são tumores vasculares benignos formados por um crescimento anormal de capilares sanguíneos que geralmente não causam danos, apenas são desagradáveis esteticamente. São mais comuns na pele, especialmente na cabeça e pescoço, mas podem aparecer em vários órgãos, como mucosas, fígado, intestino, árvore respiratória, cérebro, etc. Também chamados hemangiomas infantis ou hemangiomas capilares. Surgem logo após o nascimento, crescem rapidamente no primeiro ano de vida (fase proliferativa) e regridem espontaneamente a um ritmo de cerca de 10% ao ano (desaparecendo em até 9 anos mais ou menos). , tumores benignos formados por vasos sanguíneos. O propranolol poderia ter um efeito anti-angiogênico, inibindo a formação de vasos sanguíneos.

Figura: melanoma, um dos tumores mais malignos da espécie humana. Créditos National Cancer Institute, Domínio Público, via Wikimedia Commons.

Esta postagem não representa sugestão de tratamento. Apenas um especialista pode judiciosamente decidir quais informações divulgadas podem modificar de alguma forma um esquema de tratamento, e de que forma.

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