Tratamento de anomalias vasculares com sirolimo - verdade dessa vez?

15 Fevereiro 2016

A utilização de medicamentos aprovados para um fim em patologias diversas da aprovação original, procedimento denominado reposicionamento, tem sido cada vez mais proposto nos últimos anos. Uma das drogas que ficaram famosas em anos recentes foi o propranolol Propranolol: fármaco anti-hipertensivo indicado para o tratamento e prevenção do infarto do miocárdio, da angina, de arritmias cardíacas, bem como da enxaqueca. Pode ser utilizado associado ou não a outros medicamentos para o tratamento da hipertensão arterial. É um bloqueador de receptores beta adrenérgicos (betabloqueador). Em 2008, uma publicação no New England Journal of Medicine mostrou que o propranolol pode induzir a regressão rápida de hemangiomas infantis. , cujo efeito nos hemangiomas Hemangioma (gr haema = sangue; angeio = vaso; oma = tumor) são tumores vasculares benignos formados por um crescimento anormal de capilares sanguíneos que geralmente não causam danos, apenas são desagradáveis esteticamente. São mais comuns na pele, especialmente na cabeça e pescoço, mas podem aparecer em vários órgãos, como mucosas, fígado, intestino, árvore respiratória, cérebro, etc. Também chamados hemangiomas infantis ou hemangiomas capilares. Surgem logo após o nascimento, crescem rapidamente no primeiro ano de vida (fase proliferativa) e regridem espontaneamente a um ritmo de cerca de 10% ao ano (desaparecendo em até 9 anos mais ou menos). foi descrito em 2008. Outros casos ficaram conhecidos como falhas de avaliação com consequências potencialmente desagradáveis, como o relato de efeito da sildenafila Citrato de sildenafila ou simplesmente sildenafil é um fármaco usado no tratamento da disfunção erétil no homem. Também é eficiente na doença rara chamada hipertensão arterial pulmonar primária. Ele relaxa a parede arterial, levando a uma menor resistência e pressão arterial pulmonar. Desta forma ele reduz o trabalho em excesso do ventrículo direito do coração e melhora os sintomas da falência cardíaca do lado direito. em malformações linfáticas, posteriormente refutado. Agora, um novo ensaio clínico Ensaios clínicos são estudos realizados para testar a segurança (informações sobre eventos adversos) e a eficácia de intervenções de saúde (por exemplo, drogas, exames de diagnóstico, dispositivos, protocolos de terapia). São realizados após estudos pré-clínicos (in vitro e em animais) terem demonstrado o potencial de benefício do procedimento testado. Precisam de aprovação de autoridades sanitárias e comissões de ética. promete uma novidade para as anomalias vasculares. Será verdade?

Pesquisadores do Boston Children’s Hospital and Harvard Medical School, e integrantes do mais conhecido grupo de pesquisa e tratamento de anomalias vasculares do planeta, liderado pelo mais reconhecido especialista nestas patologias, o Dr. John B. Mulliken, publicaram os resultados de um ensaio clínico na revista Pediatrics, mostrando a utilidade da medicação sirolimo Sirolimo, também conhecido como rapamicina, é um composto macrolídeo que é usado para revestir stents coronários, prevenir a rejeição de transplantes de órgãos e tratar uma doença pulmonar rara chamada linfangioleiomiomatose. Tem funções imunossupressoras em humanos e é especialmente útil na prevenção da rejeição de transplantes renais. Inibe a ativação de células T e células B, reduzindo sua sensibilidade à interleucina-2 (IL-2) através da inibição da proteína mTOR. Foi isolado pela primeira vez em 1972 por Surendra Nath Sehgal e colegas de amostras de Streptomyces hygroscopicus encontradas na Ilha de Páscoa. O nome original da droga, rapamicina, vem do nome nativo da ilha, Rapa Nui. no tratamento de anomalias vasculares complicadas. O ensaio, coordenado pela Dra Denise Adams, uma das co-diretoras do Vascular Anomalies Center do Boston Children’s, foi conduzido entre 2009 e 2015 e incluiu 61 pacientes.

Classificação inicial Classificação revisada
  ALG
ML Síndrome de Gorham
  Linfangiomatose kaposiforme
  ML
HEK ou AT com FKM HEK com FKM
HEK ou AT sem FKM HEK sem FKM
MLVC MLVC
Linfangiectasia ACLC
PTEN com AV PTEN/MAV
  PTEN/hipertrofia/AV
MLV MLV
LEMT LEMT
MLAC MLAC

Tabela: tipos de anomalias vasculares incluídos no ensaio clínicos de Adams et al. ALG = anomalia linfática generalizada, ML = malformação linfática microcística, HEK = hemangioendotelioma kaposiforme, AT = angioma em tufos, FKM = fenômeno de Kasabach-Merritt, MLVC = malformação linfáticovenosa capilar, ACLC = anomalias dos canais linfáticos centrais, PTEN = Síndrome de mutação do gene PTEN, AV = anomalia vascular, MAV = malformação arteriovenosa, MLV = malformação linfáticovenosa, LEMT = linfangioendoteliomatose multifocal com trombocitopenia, MLAC = malformação linfático-arterial capilar.

Os pacientes foram incluídos no estudo quando apresentavam complicações das anomalias vasculares (coagulopatia, dor crônica, mais de 3 episódios de celulite por ano, ulceração, envolvimento ósseo e/ou visceral, disfunção cardíaca). A idade dos pacientes variou de 0 a 31 anos e o tratamento foi planejado por 12 meses, podendo ser prolongado em quem respondesse.

A resposta foi avaliada por imagem, avaliação clínica e incapacitação funcional. Pacientes com desaparecimento da lesão ou normalização da qualidade de vida e da função, por exemplo, foram classificados como obtendo resposta completa. A avaliação de resposta foi feita após 6 meses de tratamento.

Um total de 57 pacientes completou 6 meses de tratamento e 53 completaram 12 meses. Destes, mais de 80% apresentaram pelo menos resposta parcial na avaliação de imagem com 6 e 12 meses. Não ocorreu nenhuma resposta completa. Pacientes com ML, HEK, MLVC, PTEN/MAV e MLV mostraram resposta parcial em 100% dos casos em 6 e 12 meses. Em relação à qualidade de vida, 39% dos pacientes relataram normalização (resposta completa) em 12 meses.

A toxicidade mais comum foi hematológica em 27% dos pacientes e apenas 2 pacientes necessitaram interromper o tratamento por toxicidade.

O estudo tem várias limitações por uma série de razões, mas a mais importante é a grande variedade de doenças diferentes, em pacientes com idades variadas e com graus de severidade variados sendo tratados. Os autores especulam que todos estes fatores podem influenciar na resposta. Mesmo assim, este estudo é uma surpresa doe ponto de vista de conhecimento médico, pois demonstra um inesperado tratamento farmacológico para um grupo de patologias que são, em sua maioria, consideradas estruturais.

Em conclusão, mais uma vez um medicamento desenvolvido e utilizado para outro fim, o sirolimo, mostra um novo e inesperado efeito em patologias de natureza vascular, novamente lembrando o fenômeno da descoberta do efeito do propranolol em hemangiomas. Será que esse efeito é mais uma ilusão, como a sildenfila? provavelmente não. O estudo com a sildenafila foi um estudo observacional com número muito pequeno de pacientes e nenhuma padronização de avaliação. Já o ensaio clínico do sirolimo incluiu um número maior de pacientes, padronizando critérios de inclusão e avaliação para o estudo. Isso o torna metodologicamente mais robusto. Nunca é demais lembrar que, como trata-se de um estudo não controlado e não randomizado, esta deve ser considerada uma evidência preliminar. O ideal é confirmar o efeito do sirolimo com um estudo maior e melhor planejado.

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Tratamento de anomalias vasculares com sirolimo - verdade dessa vez? - February 15, 2016 - fhcflx